Por que as populações sofrem impactos e solucionam problemas de forma diferente e assimétrica quando enfrentam mudanças socioambientais? O que significa e como incluir os atores locais como sujeitos de pesquisas que se dedicam a responder esta pergunta? Estes dois desafios vêm movendo a pesquisa do projeto INCT-Odisseia no Semiárido Brasileiro (SAB).
Para respondê-los, a equipe está desenvolvendo uma abordagem transdisciplinar própria de Ciência Cidadã e lançando mão de noções da literatura sobre vulnerabilidade, adaptação e resiliência às mudanças ambientais globais. A abordagem central é a do Nexus+, que analisa os dilemas e sinergias das seguranças hídrica, energética e alimentar dentro da perspectiva de uma segurança socioambiental, territorialmente explícita e contexto-específica (ARAUJO et al, 2019). O assentamento Jacaré-Curituba, localizado na margem sergipana do Rio São Francisco próxima à represa Xingó, é o estudo de caso selecionado. O assentamento destaca-se pelo tamanho (aproximadamente 1.000 famílias), por ser irrigado e pela história de mobilização dos assentados pelo acesso à terra e à água.
A pandemia de COVID-19 obrigou ajustes no cronograma do projeto. O reconhecimento e contato inicial com os atores locais que estava prevista para março foi cancelada e as atividades de campo suspensas por tempo ainda indeterminado. Apesar de ser um revés importante, foi também uma oportunidade para dedicar energia aos fundamentos teóricos-analíticos da pesquisa e para a natureza da transdisciplinaridade que seria implementada e começar a construir parcerias com colaboradores locais, como o Centro Xingó de convivência com o Semiárido (https://xingo.com.br).
É objetivo central incluir pesquisadores comunitários no desenvolvimento e implementação dos instrumentos de pesquisa, dando protagonismo aos atores locais na coconstrução do conhecimento sobre a sua própria realidade. Tendo isso em vista, desde março, as atividades têm sido virtuais, com encontros semanais para alinhar a perspectivas, conceitos e abordagens, assim como debater internamente questões fundamentais de epistemologia e amadurecer a abordagem transdisciplinar. Os resultados têm se revelado muito ricos e produtivos para coconstruir um entendimento interno do que significa fazer ciência cidadã e o papel do cientista neste processo.
A primeira rodada de debate será sintetizada em um working paper. Uma segunda rodada de debates foi iniciada em julho, agora em colaboração com a equipe do projeto Odyssea-Amazônia e com a participação de outros pesquisadores do Centro de Desenvolvimento Sustentável (CDS) da UnB que se dedicam a pensar a transdisciplinaridade nas suas pesquisas de campo. O objetivo é ampliar o diálogo de experiências e visões, e a expectativa a de promover um rico processo de reflexão coletiva com contribuições de lições e aprendizados para a pesquisas transdisciplinares.