As oficinas ‘PescaViva’ fazem parte de um ciclo de atividades que integram projetos de pesquisa envolvendo membros de diferentes instituições acadêmicas brasileiras (UFOPA, UFRJ, UnB) e internacionais (IRD e CIRAD), não acadêmicas (SAPOPEMA) e organizações de base, e fazem parte das atividades do INCT ODISSEIA na região de Santarém-PA.
Nossa temática principal é a pesca. A atividade pesqueira tem uma grande importância para a segurança alimentar e a geração de renda de várias famílias da região do baixo Amazonas. Entretanto, a pesca vem sofrendo com inúmeras ameaças socioambientais, gerando impactos aos pescadores e pescadoras e ao meio ambiente. Portanto, nosso objetivo é buscar promover e facilitar o diálogo sobre os desafios ligados à pesca artesanal na Amazônia e, a partir disso, discutir caminhos e, quem sabe, construir soluções. Para isso, estamos trabalhando em uma importante região de pesca do Baixo Amazonas, o Lago Grande do Curuaí, e utilizando uma metodologia chamada ‘modelagem de acompanhamento’.
Este método envolve a construção colaborativa de um jogo associado a uma simulação com computador, que foi denominado ‘Pesca Viva’. A ideia é que este jogo possa representar, de forma simplificada, a dinâmica da pesca na região da várzea amazônica. O jogo pretende incentivar o diálogo entre os diferentes atores sociais ligados à pesca.
Convidamos os representantes das principais organizações de base relacionadas à pesca e com atuação na região do Lago Grande do Curuaí a participar da construção colaborativa do jogo. Em novembro de 2021, realizamos a primeira oficina e, a partir dela, foi criado um grupo focal, que firmou o compromisso de se encontrar periodicamente.
O grupo focal iniciou com as Colônias de Pescadores Z-20 (Santarém), Z-19 (Óbidos) e Z-42 (Juruti), STTRs Santarém, MOPEBAM e a FEAGLE.
À medida que as ações foram ocorrendo, outros atores sociais foram identificados como importantes e convidados a participar. Por exemplo, verificou-se que a temática da fiscalização ambiental vinha sempre à tona nos nossos encontros e, então, levantou-se uma discussão sobre a participação das secretarias de meio ambiente (Semma) no processo, que, posteriormente, foi encaminhada. Além das organizações iniciais e das Semmas, hoje o grupo focal conta com os Conselhos de Desenvolvimento Sustentável do Arapixuna e do Lago Grande e o STTR Juruti.
A instituição mediadora desse processo é a Sociedade para Pesquisa Proteção e Meio Ambiente (Sapopema). Ela vem atuando na região do Baixo Amazonas desde o início dos anos 2000 com um trabalho voltado, sobretudo para o manejo sustentável da pesca artesanal. Ela possui uma relação de confiança com os atores locais, o que facilitou o início do diálogo e a sua evolução ao longo do tempo.
O jogo ‘Pesca Viva” também vem sendo aplicado e discutido nas comunidades da região, são elas: Curuaí, Cabeceira do Uruari, Água Fria e Aldeia Camará. Além disso, foi iniciado um processo de colaboração com o coletivo jovem do PAE Lago Grande: os “Guardiões do Bem Viver”. A perspectiva é discutir temáticas socioambientais consideradas relevantes para eles por meio de metodologias participativas, incluindo os jogos.
O jogo ‘Pesca Viva’ vem se consolidando ao longo das oficinas. Recentemente, no dia 04 de agosto, realizamos a 11ª edição da oficina ‘PescaViva’ com o grupo focal em Santarém-PA. Na 08ª oficina, o grupo focal levantou o tema dos perfis de pescadores que atuam na região e de como o entendimento desses perfis são importantes para a compreensão do processo de construção dos acordos de pesca comunitários.
A partir disso, o grupo focal em conjunto com a equipe de mediação considerou importante discutir como o jogo ‘PescaViva’, portanto, pode apoiar na discussão dos acordos de pesca considerando os diferentes perfis socioeconômicos da pesca na região do Lago Grande e, posteriormente, para o baixo Amazonas.
Para isso, começamos a incorporar no jogo os elementos considerados importantes para essa discussão, o que incluiu também uma redefinição da proposta de tabuleiro. Na última oficina, entre outras coisas, a proposta de tabuleiro foi validada com os participantes do grupo focal.
Observa-se até aqui que, para além da construção do jogo, o processo possibilitou:
- um espaço de diálogo entre as organizações de base e as agências governamentais, favorecendo uma compreensão mútua em torno das problemáticas da pesca;
- Fortalecimento institucional e maior interação, integração e formação de redes de solidariedade entre as entidades participantes;
- Contribuição no processo de tomada de decisão dos acordos de pesca da região.
e entre outros.
Com a 11ª oficina o processo encerra um ciclo de oficinas de construção colaborativa do jogo PescaViva. Mas ainda não é o fim dos trabalhos, este último encontro promoveu encaminhamentos, a exemplo uma prévia de um plano de ação para o ano de 2024. Ainda, temos uma agenda acordada para 2023, que envolve a testagem da versão atual do jogo em comunidades da região do Lago Grande e, posteriormente, um encontro final com o grupo focal em dezembro para socialização das experiências.