Em novembro de 2017, a equipe Rede Clima – parceira do INCT Odisseia – percorreu diversas comunidades na região do norte da Bahia e agreste Pernambucano coletando depoimentos e experiências de agricultores e produtores a respeito dos programas Uma Terra Duas Águas (implantação de cisternas de produção) e Fomento Rural (transferência de recursos financeiros e acompanhamento para investimento produtivo de famílias em pobreza rural). Alguns dos casos de sucesso levantados pela equipe, que ilustram o uso e o impacto das tecnologias sociais na vida dos produtores, podem ser conferidos em nosso site.
Caso: Reaproveitando água
Avicultura e plantas forrageiras em Curral Novo (BA)
Dona Clarice mora na comunidade de Curral Novo (Massaroca, Juazeiro- BA) com a sua família. A agricultora sempre se considerou uma mulher que vai à luta, dependendo de diversas pequenas atividades ligadas à cozinha (confecção de doces de mamão e umbu) e do benefício-doença do marido para o sustento da família. Ao mesmo tempo, Dona Clarice sempre manteve uma roça, agora seca devido à estiagem, alguns poucos animais (bode, ovelha e galinhas) e catava umbu para venda.
Diante do Programa de Fomento, a beneficiária decidiu investir na plantação de capim e palma para alimentação animal e em um galinheiro. Mesmo tendo fontes de água no quintal produtivo (Cisterna de consumo e de produção), Dona Clarice faz questão de reaproveitar a água escoada do banho para o cultivo de capim e palma, que depois vão para processamento na forrageira. Desse modo, mesmo na seca, a família garante a alimentação das galinhas e bodes que produz para o consumo da família e comercialização aos vizinhos, amigos e alguns restaurantes. Seu lucro da produção já foi destinado à compra de cerca, forrageira e auxiliou na aquisição de uma moto.
A assistência técnica foi essencial para tirar dúvidas e ensinar técnicas que ela não conhecia, além do benefício financeiro do Programa. A produtora acredita que a alimentação da família está melhor, pois “o dinheiro ajudou a produzir mais… ajudou a arar a terra, aí se produz mais e se come melhor…”.
Além da produção, Clarice e outras mulheres da comunidade conquistaram em 2012 uma fábrica para processamento de frutas e fabricação de doces à base principalmente de umbu, fruta bastante comum na região. Antes, toda a colheita era vendida para atravessadores ou unidades de fabricação, que tiravam a maior parte do lucro da produção. Atualmente, além de produtora de galinhas, Clarice também trabalha na Unidade de Beneficiamento de Frutas “Sabor Natural da Caatinga” das Comunidades de Curral Novo e Jacaré, obra realizada por meio do Projeto Recaatingameto, executado pela ONG IRPAA, dentro do Programa Petrobras Ambiental.
Do ponto de vista da produção individual, a produtora acredita que a falta de água é a grande dificuldade, pois se tivesse “daria leite de cabra, bode, galinha caipira, teria tudo… tem que ter força de vontade”.
Projeto TED-MDS e Rede Clima
Texto: Patrícia S. Mesquita/Louise Cavalcante